segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

"a indústria cultural e mercantilista introduziu a sujeição da mente"...





A indústria cultural,
tão bem dissecada pela escola de Frankfurt,
retarda a emancipação humana ao introduzir
a sujeição da mente
no momento em que a humanidade
se livra da sujeição do corpo.
É longa a história da sujeição do corpo,
a começar pela escravidão que durou séculos,
inclusive no Brasil,
onde foi considerada legal e legítima por 358 anos.
Não apenas escravos
tiveram seus corpos sujeitados.
Também as mulheres.
Afinal faz menos de um século
que elas iniciaram o processo
de apropriação do próprio corpo.
A dominação sofrida pelo corpo feminino era,
e para algumas ainda é, endógena e exógena.
Endógena porque a mulher não tinha nenhum controle
sobre o seu organismo,
encarado como mera máquina reprodutiva
e com freqüência demonizado.
Exógena pelas tantas discriminações sofridas,
da proibição de votar à castração do clitóris,
da obrigação de encobrir o rosto em países muçulmanos,
à exibição pública de sua nudez, ora gorda, ora magra,
como isca publicitária
nos países capitalista de tradição cristã.
No momento em que o corpo humano
alcançava sua emancipação,
a indústria cultural e mercantilista
introduziu a sujeição da mente.
A multimídia é como um polvo cujos tentáculos
nos prendem por todos os lados.
Tente pensar diferente da monocultura
que é imposta via revistas,
televisão, rádio, jornais, novelas
e programas de entretenimento!
Se a sua filha de 20 anos
disser que permanece virgem,
isso soará como ridículo anacronismo;
se aparecer no Big Brother expondo o corpo,
bebendo e transando via satélite
para o onanismo visual
de milhões de telespectadores, isso é show.
O processo de sujeição da mente utiliza
como chibatas o prosaico,
o efêmero, o virtual,
o fugidio, o descompromissado.
Detona progressivamente os antigos
e sempre universais valores.
Ética?
Ora, não deixe escapar as chances de ter sucesso
e ficar rico,
ou de novo amor,
desde que sua imagem não fique mal na foto.
Agora, tudo é descartável,
inclusive os valores.
E todos são impelidos à reciclagem perpétua na profissão,
na identidade,
na família,
nos relacionamentos.
Nossos pais aposentavam-se num único emprego.
Hoje, coitado do profissional,
que ao oferecer-se a uma vaga,
não apresentar no currículo
a prova de que já trabalhou
em pelo menos
três ou quatro empresas do ramo!
Que já cursou não sei quantas faculdades!
Eis a civilização intransitiva,
desistorizada,
convencida de que nela se esgota
a evolução do ser humano e da sociedade.
Resta apenas dilatar a expansão do mercado.
A tecnologia multimídia nos sujeita,
em especial os desestruturados,
sem que tenhamos consciência dessa escravidão virtual.
Pelo contrário,
Oferece-nos a impressão
ou quase certeza de que somos
"imperadores de poltrona",
na expressão cunhada por Robert Stam.
Temos tanto "poder" que, monitor à mão,
pulamos velozmente de um canal de TV a outro,
de um site a outro, de um chat a outro,
configurando a nossa própria programação
como se fosse real.
Já não estamos propensos
a suportar discursos racionais e duradouros.
Pauta-nos a vertiginosa velocidade tecnológica,
que nos mantém, é claro,
atrelados às conveniências do mercado.
Nossa bóia de salvação reside, felizmente,
na observação de Jean Baudrillard,
de que o excesso de qualquer coisa
gera sempre o contrário.
É o caso da obesidade.
O alimento imprescindível à vida,
mas em excesso,
afeta o sistema cardiovascular,
motor e produz tantos outros defeitos colaterais.
Há tanta informação que preferimos
não prestar mais atenção nelas.
A comunicação torna-se incomunicação.
Essa sujeição da mente
vem no bojo da crise da modernidade que,
desmistificada pela barbárie de duas guerras mundiais,
de guerras localizadas,
da incapacidade do capitalismo distribuir riquezas,
do fracasso do socialismo soviético,
passa a rejeitar todos os "ismos".
Os espaços da expressão da cidadania,
como a política e o estado,
caem em total descrédito.
Tudo e todos
prestam culto a um único soberano:
o mercado.
Felizmente ainda existem,
ou resistem as exceções
e que sejamos uma delas.
A.D.
enviado p/teka

Nenhum comentário: