sábado, 4 de julho de 2009

MAU HUMOR




Não me lembro direito,
mas li numa revista, acho que na Carta Capital,
um artigo levantando a hipótese de que todo o cara
que tem mania de fazer aspas com os dedinhos
quando faz uma ironia é um chato.
Num outro artigo alguém escreveu que achava
que jamais tinha conhecido um restaurante de boa comida
com garçons vestidos de coletinho vermelho.

Joaquim Ferreira dos Santos, em 'O Globo',
fala do seu profundo preconceito com quem usa
"agregar valor",
"a nível de"....
Eu posso jurar que toda mulher que anda permanentemente
com uma garrafinha de água
e fica bebendo de segundo em segundo é uma chata.
São preconceitos, eu sei.
Ainda que seja admirável ver uma mulher assentar-se numa roda de chopp
e pedir uma água mineral... sem gás!

Mas cada vez mais a vida está confirmando
estas conclusões.
Um outro amigo meu jura
que um dos maiores indícios de babaquice
é usar o paletó nos ombros,
sem os braços nas mangas.
Por incrível que pareça,
não consegui desmentir.
Pode ser coincidência,
mas até agora todo cara que eu me lembro de ter visto
usando o paletó colocado sobre os ombros é muito babaca.
Rivaliza com homem de sapatos tipo sport,
com lacinho ou enfeite pendurado
e meia branca.

Já que estamos nessa onda,
me responda uma coisa:
você conhece algum natureba radical
que tenha conversa agradável?
O sujeito ou sujeita que adora uma granola,
só come coisas orgânicas,
faz cara de nojo à simples menção da palavra 'carne',
fica falando o tempo todo em vida saudável
é seu ideal como companhia numa madrugada?
Sei lá, não sei.
Não consigo me lembrar de ninguém assim
que tenha me despertado muita paixão.

Eu ando detestando certos vícios de linguagem,
do tipo 'chegar junto',
'superar limites',
'focar',
'a nivel de',
'enquanto (istou ou aquilo)'
essas bobagens que lembram papo
de concorrente a big brother.
Mais uma vez, repito:
acho puro preconceito,
idiossincrasia,
mas essa rotulagem imediata é uma mania
que a gente vai adquirindo pela vida
e que pode explicar algumas antipatias gratuitas.
Tem gente que a gente não gosta logo de saída,
sem saber direito por quê.
Vai ver que transmite algum sintoma de chatice.
Tom de voz de operador de telemarketing
lendo o script na tela do computador,
repetindo a cada cinco palavras a expressão
'senhoooorrr'
e dizendo que
'vou estar anotando'
e 'vamos estar providenciando'
me irrita profundamente.

Se algum dia eu matar alguém,
existe imensa possibilidade de ser um flanelinha...
Não posso ver um deles que o sangue sobe à cabeça.
Deus que me perdoe,
me livre e me guarde,
mas tenho raiva menor do assaltante
do que do cara que fica na frente do meu carro
fazendo gestos desesperados
tentando me ajudar em alguma manobra,
como se ele tivesse comprado a rua
e eu a carteira,
e tivesse todo o direito de me cobrar pela vaga.

Sei que estou ficando velho e ranzinza,
mas o que se há de fazer?
Não suporto especialista em motivação de pessoal
que obrigue as pessoas a pagarem o mico
de ficar segurando na mão do vizinho,
com os olhos fechados e tentando receber
'energia positiva'.
Que me perdoem todos os palestrantes
que estão ficando ricos percorrendo o país,
mas eu acho que esse negócio de trocar fluidos
me lembra putaria.

Tenho a plena convicção de que empresa que paga bons salários
e tem uma boa e honesta política de pessoal
não precisa contratar palestras de motivação
para seus empregados.
Eles se motivam com a grana no fim do mês
e com a satisfação de trabalhar numa boa empresa.

E para terminar:
existe qualquer esperança de encontrar
vida inteligente numa criatura
que se despede mandando
'um beijo no coração'?

Lula Vieira - Publicitário

Nenhum comentário: