domingo, 9 de agosto de 2009

SER PAI - Arthur da Távola




Ser pai

é acima de tudo,

não esperar recompensas.

Mas ficar feliz caso e quando cheguem.

É saber fazer o necessário por cima

e por dentro da incompreensão.

É aprender a tolerância com os demais

e exercitar a dura intolerância(mas compreensão)

com os próprios erros.

Ser pai

é aprender errando,

a hora de falar e de calar.

É contentar-se em ser reserva,

coadjuvante,

deixado para depois.
Mas jamais faltar no momento preciso.

É ter a coragem de ir adiante,

tanto para a vida quanto para a morte.

É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho,
fazendo-se forte em nome dele
e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

Ser pai

é aprender a ser contestado

mesmo quando no auge da lucidez.
É esperar.

É saber que experiência só adianta para quem a tem,
e só se tem vivendo.

Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem

pelos sofrimentos necessários,

buscando protegê-los sem que percebam,

para que consigam descobrir os próprios caminhos.

Ser pai

é saber e calar.
Fazer e guardar.
Dizer e não insistir.

Falar e dizer.
Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar.

É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia,
jamais transferindo aos filhos o que,

a alma, lhe corrói.
Ser pai é ser bom sem ser fraco.
É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição,
o seu lado fraco, desvalido e órfão.

Ser pai

é aprender a ser ultrapassado,
mesmo lutando para se renovar.

É compreender sem demonstrar,
e esperar o tempo de colher,

ainda que não seja em vida.

Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago
e compreensão.

Mas ir às lágrimas quando chegam.

Ser pai

é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido

se faz na personalidade do filho,

sempre como influência,
jamais como imposição.

É saber ser herói na infância,
exemplo na juventude

e amizade na idade adulta do filho.

É saber brincar e zangar-se.
É formar sem modelar,
ajudar sem cobrar,

ensinar sem o demonstrar,
sofrer sem contagiar,

amar sem receber.

Ser pai

é saber receber raiva,
incompreensão,
antagonismo,
atraso mental,
inveja,

projeção de sentimentos negativos,
ódios passageiros,
revolta,
desilusão e a tudo responder
com capacidade de prosseguir sem ofender;

de insistir sem mediação,
certeza,

porto,

balanço,

arrimo,

ponte,

mão que abre a gaiola,
amor que não prende,
fundamento,

enigma,

pacificação.

Ser pai

é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.

O máximo de convivência no máximo de solidão.

É, enfim,
colher a vitória exatamente quando percebe que o filho

a quem ajudou a crescer já,

dele, não necessita para viver.

É quem se anula na obra que realizou
e sorri, sereno,

por tudo haver feito para

deixar de ser importante.”

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