A perda do pai:
quem sabe vivenciá-la?
Como aceitar mortal e falível aquela pessoa grande,
capaz de conseguir o universo, logo ele,
o provedor, abridor de caminhos
quem sabe vivenciá-la?
Como aceitar mortal e falível aquela pessoa grande,
capaz de conseguir o universo, logo ele,
o provedor, abridor de caminhos
pelos quais começamos a passar medrosos?
A perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto.
E há que saltar.
É o roubo feito no exato momento
em que estávamos a descobrir o melhor do mundo.
E há que saltar.
É o roubo feito no exato momento
em que estávamos a descobrir o melhor do mundo.
A perda do pai é a entrada no lugar-comum,
é começar a ser igual a todos os que a sofrem,
a ter os mesmos medos, as mesmas frases.
É voltar a se emocionar com o que se desprezava:
datas, pequenas lembranças, objetos,
palavras e até com as manias dele que nos irritavam.
é começar a ser igual a todos os que a sofrem,
a ter os mesmos medos, as mesmas frases.
É voltar a se emocionar com o que se desprezava:
datas, pequenas lembranças, objetos,
palavras e até com as manias dele que nos irritavam.
A perda do pai é o começo do balanço da própria vida,
porque, enquanto vivia,
era mais fácil nele descarregar alguns fracassos e culpas.
porque, enquanto vivia,
era mais fácil nele descarregar alguns fracassos e culpas.
A perda do pai é o início da significação.
As palavras começam a fazer um estranho e novo sentido.
As palavras começam a fazer um estranho e novo sentido.
A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo:
o que não fizemos,
a visita deixada para depois,
o gosto adiado,
a advertência desdenhada,
o convite abandonado sem resposta,
o interesse desinteressado...tudo isso volta,
massacrante, cobrando-nos o egoísmo.
Nosso primeiro exame de consciência verdadeiro
o que não fizemos,
a visita deixada para depois,
o gosto adiado,
a advertência desdenhada,
o convite abandonado sem resposta,
o interesse desinteressado...tudo isso volta,
massacrante, cobrando-nos o egoísmo.
Nosso primeiro exame de consciência verdadeiro
começa quando o pai morre.
Nosso encontro com a morte inaugura-se com a dele.
Nossa primeira noite sem proteção consciente,
dá-se quando ele já não está.
E nunca somos mais sós que na primeira noite em que já não o temos.
O pai é o mistério enquanto vida e a revelação depois de morto.
Num segundo, entendemos tudo o que,
durante a vida, nele nos parecia uma gruta de mistérios.
Seus objetos ganham vida,
suas comidas preferidas passam a ter mais gosto,
suas frases adquirem o sentido que só o tempo
e a repetição outorgam às coisas.
Nosso encontro com a morte inaugura-se com a dele.
Nossa primeira noite sem proteção consciente,
dá-se quando ele já não está.
E nunca somos mais sós que na primeira noite em que já não o temos.
O pai é o mistério enquanto vida e a revelação depois de morto.
Num segundo, entendemos tudo o que,
durante a vida, nele nos parecia uma gruta de mistérios.
Seus objetos ganham vida,
suas comidas preferidas passam a ter mais gosto,
suas frases adquirem o sentido que só o tempo
e a repetição outorgam às coisas.
A perda do pai dói muito!
Isso é tudo.
Para que querer saber por que?
O pai é o eu no outro.
É dois em um,
Para que querer saber por que?
O pai é o eu no outro.
É dois em um,
santíssima dualidade a proclamar o mistério e a glória de existir,
dívida que com ele temos,
sem nunca conseguir pagar,
o que o faz por isso mesmo,
sempre, muito melhor do que nós...
dívida que com ele temos,
sem nunca conseguir pagar,
o que o faz por isso mesmo,
sempre, muito melhor do que nós...
Artur da Távola
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